terça-feira, 22 de maio de 2012

O que nos une e nos separa





Uma corrente elétrica ligada no máximo, dando choques em alguma parte do corpo que não se consegue apontar. Não é à toa que a água conduz tão perfeitamente a energia.

Pus os pés naquele chão frio e molhado, mas tudo que senti foi calor. Calor do grito de todos os homens, todos unidos diante daquela entidade poseidônica. O oceano, o maior dos paradoxos, é móvel e estático, ele une e separa. Quando esquenta, a seca bate na minha porta, e quando esfria, traz tempestades.

Por falta de melhor nome em português, resolvi nomear de magia esse sentimento sobrenatural de conexão proporcionado nesse momento pelo oceano.

Ora, acredite ou não, mas a magia é sim real - e rara. É também palpável, palatável e muito saborosa para quem a conhece.

Falo aqui daquela magia que só o seu corpo experimenta, daquela que é exclusiva e puramente individual, egoística ao extremo, mas ao mesmo tempo elemento maior de identidade humana que um pode ter. A magia, assim como o oceano, une e separa.

Aquela palpitação sem motivo aparente, Aquele frisson incontido sentimento de puro êxtase e ansiedade. Calafrios; arrepios; breguice em mitose, em cissiparidade, ruborizando o próprio mágico. Do tocar com a própria mão a mesma água que nos une e nos separa. Une e separa. Porque aquilo que mais soma é também o que mais divide.

E veja bem, magia não tem nada de amor carnal, senão amor ao próximo, tão pouco de esoterismo e divindade, senão o amor à natureza. É aquilo que lhe deixa leve, que lhe deixa bom, que lhe confere uma conexão sem ruídos ou interferências com a sua própria alma. É como o oceano que une ocidente e oriente em uma mesma e única água, em um único povo.

Ao se encontrar consigo mesmo, ao perceber que a persona como ideia se encaixou perfeitamente no hospedeiro natural de carne e osso, o mágico tem o raro e peculiar momento de experimentar o encontro dos seres com eles próprios, em corrente, em união, ligando-os da estratosfera ao centro da terra. Do ventre ao umbigo. De um lado a outro de um oceano que une e separa.

Isaac N

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Quando você mergulha, meu amigo.




Mergulhar é um programa arriscado, meu amigo, pois todo bom mergulho pressupõe uma junção de tantos fatores que o prazer de fazê-lo é semelhante à mais pura adrenalina do risco; uma antítese cruel entre o bem estar e o afogamento iminente. Frisson total, magia, meu caro.

Antes de afundar, cheque a água, sua temperatura, a profundidade, e, principalmente, o tamanho do salto. Salto alto costuma dar vertigem, tontura, loucura.

Tem mais, os mergulhadores sábios não afundam sem um guia, uma corda de salvação. Eles não se aventuram em águas desconhecidas sem a própria admoestação: voltarei seguro? Sim, voltarás, desde que aqueles fatores estejam a seu favor, a água, a fundura... a coragem de enfrentar os imprevistos, degustar o real sabor do medo; e como o medo tem gosto de remédio!

Seguidas as regras básicas, é de se curtir o abraço do frio, é se sentir na própria flutuação, se entregar ao azul, verde, translúcidos e opacos, tudo ao mesmo tempo. É de se deixar levar caso o aconchego da água esteja mais atrativo que os impropérios do ar. É se arrastar na correnteza do calor do momento, abrir os olhos e soltar todo o oxigênio, soltar-se. Largar-se.

Não sei o que você acha, meu amigo, mas afundar no mergulho tem lá sua beleza.