segunda-feira, 19 de maio de 2014

Quasilindo



Frustração é uma receita que você mesmo faz. Bem simples, bem direta: você cria perguntas que geralmente não têm respostas, talvez por serem retóricas em sua essência, e as contesta a partir da sua visão de mundo, que fatalmente é parcial e, logicamente, viciada.

As receitas da vida bem que poderiam ser objetivas como a da frustração; quem dera fossem gramática. As regras de pontuação serviriam para dar os devidos espaços para a respiração fluir entre uma sentença e outra; as regras de sintaxe me diriam que o sujeito pode não estar presente na frase. Não é porque você criou uma interrogação e inventou de colocá-la ali, bem ali, no fim do período, que você vai ter uma resposta afirmativa. A negação é um jeito de responder e também um jeito de se esconder.

O quasilindo disso tudo é que todo novo dia é também um neologismo, porque por mais que se queira, as coisas e as coisas que vêm das coisas não são cíclicas (ainda bem), mas lineares. São no máximo um novelo tão bem enrolado que vira uma bola. E assim você pode também chutá-la pro alto e engalhá-la no poste de luz, no teto de vidro, no espelho, no penhasco - ou adiar tudo pro mês que vem. E por serem lineares, ou enlinhadas, é que as perguntas não têm uma resposta conhecida; ao contrário, ficam aí presas nas palavras não ditas, nos exageros de emoção, nas verdades que você só têm pela metade e nas mentiras que você mesmo se dá por inteiro. Como um livro que voa e que te faz voar, quasilindo.

Só não culpe o outro. O seu problema é seu e a sua retórica é sua, o outro não participa das suas elucubrações mas do seu desejo. O outro não é fator porque é também incógnita. O outro pode até saber a resposta, mas a receita da pergunta, essa é como a frustração, é só você quem faz.