terça-feira, 28 de junho de 2016

Homem, sim, chora.

Todo homem chora, claro, isso não se nega. Mas, um homem, para ser de verdade, tem que estar disposto a chorar muito mais que o normal. Não que eu defenda que a inclinação a estar constantemente banhado em lágrimas ou a disposição a se martirizar por qualquer causa seja parte do atributo ‘homem de verdade’ – até porque sequer tenho capacidade e envergadura morais de definir qualquer desses conceitos. Nem sei direito o que é ser homem nem ninguém conseguiu até hoje me dar uma boa definição do que é verdade.

Mas o fato é que, no meu entender, chorar é um ato de virtude plena; ainda que dolorosamente angustiante, é incontestemente bonito. Beleza porque nele você se expõe, nele você se apequena, se minimiza, para então mostrar o gigantismo do seu mundo, do seu eu. O homem de verdade não chora por coisa pouca; pelo contrário, se ele verteu alguma lágrima é porque não aguentou mais. Não suportou mais a incoerência que lhe aflige, a injustiça que observa, a insensibilidade que lhe afeta ou a ingratidão e a desonestidade que lhe tiram o ânimo de crer e viver. E se rebelar contra essas iniquidades da vida é um ato de coragem, de força, de vontade, de acenar para um futuro desejoso de dias mais livres, mais coloridos, menos injustos. O homem de verdade quando chora faz por onde mudar o seu caminho e o dos que por ele trafegam, dando voz ao segredo quebrado e força ao sonho – ainda que temporariamente – perdido. O homem de verdade no momento em que trava a garganta não quer atenção, mas quer aliados à sua causa. Não quer pesar, mas agir. Não quer sua pena, mas sua compaixão e força. Ele não quer se fazer de vítima, mas quer que você entenda que todos somos reféns do acaso que planejamos ou não. Dos acertos que cumprimos ou não, do afago e do aceno à morte que todo dia nos tira um pouco da existência, mas também nos enche profundamente dela. E como é bom sentir o gosto de existir, mesmo que tenha um sabor salgado da nada doce vida. O choro é, eu acho, a arma contra isso: o homem de verdade combate o seu flagelo com força e resignação ao mesmo tempo, luta contra seus desafios, sabendo reconhecer o seu fracasso para poder sorrir até mesmo na queda. Para poder dizer: "hoje eu choro porque errei ou comigo erraram, mas amanhã eu aprendo e apesar disso terei prazer em sorrir".


O choro é, pois, sintoma de saudade, de vontade. É alento para a tragédia e prêmio para o vitorioso, que com amor e dor constrói o seu caminho de um homem de verdade.