Poeira
estelar. E não é que ele tinha razão? Somos mesmo poeira estelar,
em física e em metafísica. Perdão pela assertividade com que digo,
mas eu sempre soube ser e quis ser poeira. Ser pó, ser sujeira do
balcão que fica grudada na pele do último bêbado abandonado; pó
molhado de suor, água, álcool...
Gosto de
ser pó da maquiagem que fica na manhã seguinte, na minha barba, na
minha boca e no meu pensamento, igualmente sujo, como tudo o é. Sujo
como o prazer, que é egoísta e invejoso, que exige mais e mais de
si, ou não se lembra de como tudo tremia ao mínimo toque, ao
pensamento ou lembrança? Tudo era memória ou até mesmo fantasia,
ideia, imaginação de um momento que pode ou não ter existido.
Prazer é egoísmo que define e definha.
Gosto de
ser poeira do meu quarto, pois, dentro dele, ela e eu clamamos pelo
caos, escalamos as paredes, trememos na utopia, vivemos em Nirvana e
cedemos juntos na lentidão agoniada e grunge das horas, cadentes por
excelência e desarmoniosas por opção.
Gosto de
ser pó na insanidade da agitação, de ser impulso frenético que
pulsa pulsa PULSA!
Sou
partícula, enfim. Elemento e parte, produto das estrelas, sou tudo e
sou nada. O que é lá de cima, do inalcançável e do transcendental
é também daqui de baixo, terreno e mundano, perverso.
Por isso,
na minha humilde opinião de poeira estelar, não existem distâncias
tampouco instâncias para se viver em excesso ou em déficit. Nós
simplesmente somos um, bem verbo intransitivo assim. Bem
intransigente assim.
(Ah,
Freud, essa não é uma sessão de psicanálise).