Já diria Djavan, que djavaneia como ninguém, que o coração é
uma ilha a centenas de milhas daqui. Escuto isso tentando devanear, tal qual o
poeta inspirado, imaginando um oceano de águas bravias, repleto de criaturas do
mar, implacáveis, famintas, orgulhosas. E nessa ilha lá isolada no meio do pacífico,
perdida, ancorada em cadeia montanhosa profundíssima que podia muito bem se
chamar peito ou edifício, está o coração roçando no imenso mapa azul, que lhe
arranca pedaços, lhe faz carícias, lhe joga pedras, lhe lança anzóis, lhe
perde a vista.
De tão alta dá vertigem, de tão exposta encandeia e inibe, de tão firme não vibra e de
tão bela lembra o sol que nasce - ainda bem - todas as manhãs por trás das
cortinas do quarto e das pálpebras dos olhos.
Mas ela está ali, e isso é bonito, ainda que distante, ainda
que medida na casa de centenas de milhas, separadas pelo mar bravio e pela
saudade. E por mais bonita que seja, não há foto capaz de captar fisicamente tamanha
força; memória não compartilhada mas viva como uma imagem impressa que eu mostro com orgulho pra quem eu quiser.