Fim, antes você me punha medo, hoje não mais. Calma, isso não é um gesto suicida, isso não é um apelo de atenção, não é pessimismo exagerado, não é um recado de qualquer sorte exceto para o porvir que possivelmente existirá mesmo que contra a minha própria vontade. Isso é um lembrete, uma carta de confrontação, um chamado ao conflito indissociável do passado, presente e do futuro que fatalmente se unirão no firmamento.
Tenho a convicção que não fui feito para envelhecer, muito
menos fui feito para ver meus amores envelhecerem, sou muito saudade para ser a
minha própria esperança e muito egoísta para ser a esperança de alguém. Sei que é algo muito cruel de se pensar, mas infelizmente a realidade não me prova o
contrário; só confirma as previsões de que tudo tende a desmoronar em caos,
em lágrima, em luto, em fins melancólicos.
Não precisa me dizer, pois eu sei que isso é fraqueza. E com
toda franqueza, prefiro admiti-la que reconhecer o falso heroísmo de ganhar mais umas
horas de sobrevivência todo dia à custa da dor e do sofrimento de muitos outros.
Não quero estar aqui para ver a tua terrível balança da justiça natural equilibrar
de uma vez por todas o peso do homem que ocupa e mata tudo que possui, especialmente o amor. Coitado do amor.
Não quero vê-lo se desgastar e sumir
com seu mais precioso dom que é o de nos tornar imortais, pois só ele eterniza. Qualquer
minuto sem amor é um minuto perdido, entendeu? A vida não vale a pena um momento
sequer se não for com amor e isso dá muito medo; medo de um dia vê-lo
escorrendo pelas mãos, sem poder segurá-lo, sem poder sentir a força daquilo
que é o único motor, verdadeiro instinto que não vale a pena domesticar.
O amor é na verdade uma fera, é arte, admitamos isso e escapemos das convenções porque
elas não são páreas para sua brilhante e tenaz selvageria. É melhor assim. Sério, é bem melhor assim.
Então, Fim, cuida de se apresentar com serenidade. Hoje não
mais o temo, mas te admiro, pois sei que és tão belo quanto o canto de uma sereia. Se antes tinha medo do fim, esse é justamente o fim do medo. E isso não é um gesto suicida, isso não é um apelo
de atenção, não é pessimismo exagerado, é tão somente uma simples, resignada,
incompleta, macambúzia, carta de amor.