Frustração é uma receita que você
mesmo faz. Bem simples, bem direta: você cria perguntas que
geralmente não têm respostas, talvez por serem retóricas em sua
essência, e as contesta a partir da sua visão de mundo, que
fatalmente é parcial e, logicamente, viciada.
As receitas da vida bem que poderiam
ser objetivas como a da frustração; quem dera fossem gramática. As
regras de pontuação serviriam para dar os devidos espaços para a
respiração fluir entre uma sentença e outra; as regras de sintaxe
me diriam que o sujeito pode não estar presente na frase. Não é
porque você criou uma interrogação e inventou de colocá-la ali,
bem ali, no fim do período, que você vai ter uma resposta
afirmativa. A negação é um jeito de responder e também um jeito
de se esconder.
O quasilindo disso tudo é que todo
novo dia é também um neologismo, porque por mais que se queira, as
coisas e as coisas que vêm das coisas não são cíclicas (ainda
bem), mas lineares. São no máximo um novelo tão bem enrolado que
vira uma bola. E assim você pode também chutá-la pro alto e
engalhá-la no poste de luz, no teto de vidro, no espelho, no
penhasco - ou adiar tudo pro mês que vem. E por serem lineares, ou
enlinhadas, é que as perguntas não têm uma resposta conhecida; ao
contrário, ficam aí presas nas palavras não ditas, nos exageros de
emoção, nas verdades que você só têm pela metade e nas
mentiras que você mesmo se dá por inteiro. Como um livro que voa e que te faz voar, quasilindo.
Só não culpe o outro. O seu problema
é seu e a sua retórica é sua, o outro não participa das suas
elucubrações mas do seu desejo. O outro não é fator porque é
também incógnita. O outro pode até saber a resposta, mas a receita
da pergunta, essa é como a frustração, é só você quem faz.
Um comentário:
Muito bom texto, porém a vida e seu enredo, não necessariamente são cíclicos, muito menos lineares. Existem curvas, muitas! Ladeiras, buracos, caminhos a serem desvendados. E tudo isso é muito bom, é aprendizado. Fácil é culpar os caminhos ao invés das nossas próprias escolhas por essas tais frustrações. Ainda sou fã da máxima : siga seu coração. Deixando de mentir pra si/nós mesmos,podemos mostrar também aos outros o que somos e aceitar de verdade (e o com merecimento, muitas vezes) as frustrações como parte de algo ainda melhor. Não repetir a estrada que levou a frustração é o melhor que levamos disso...bjo.
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