E é complicado porque escrever é uma coisa muito definitiva, das poucas coisas definitivas que a gente inventou. A gente vive com medo de ser esquecido e, aparentemente, a maneira mais efetiva de ser lembrado é quando alguém escreve seu nome, nem que seja sobre alguns segundos seus, sobre um momento, ou sobre alguns muitos momentos juntos. Parece até que a letra não tem medo do tempo, não tem esse nosso medo infantil de morrer, de se esvair, de desaparecer. Plante o nome de alguém num papel, numa carta, numa canção, numa flor ou numa tatuagem e será eternamente responsável por aquilo que cultivas.
Se escrever é momento, ele é também encontro. Se alguém leu, é porque dois mundos se viram e se abraçaram. Eu e meus erros, você e os seus acertos hão de resultar em alguma coisa diferente. Daqui a alguns anos ou quilômetros, nada será igual, é como aquela velha história que diz que nunca dois banhos de rio serão iguais, pois nem você nem o rio serão os mesmos quando voltarem a se encontrar. A natureza arranja uns jeitos criativos de conversar com a gente, de escrever suas marcas, ora indeléveis, ora duradouras. É como um iceberg, flutuando no oceano, se alterando a cada segundo.
Não quero comparar ninguém a um iceberg, há conotações escritas que não são muito bem valorizadas, infelizmente. Mas se você pensar como uma imensa rocha que é ao mesmo tempo firme e flexível; transparente e opaca; fria, mas forte; dura e mole, talvez entenda meu ponto. Eu escrevo porque me permito transformar. Eu me tatuo com meu alfabeto porque me permito escrever o mundo em mim. Eu danço porque meu corpo é uma extensão da minha mente fulgurosa, irrequieta, insolente, incansável. Eu sou resultado de minhas circunstâncias e de minhas consequências e, assim como uma aparente inabalável pedra de gelo no oceano, vou desaparecer um dia, mas até lá vou escrevendo minha história com esses dedos esguios. É difícil. É como ter saudade.
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