Todo homem chora, claro, isso não
se nega. Mas, um homem, para ser de verdade, tem que estar disposto a chorar
muito mais que o normal. Não que eu defenda que a inclinação a estar
constantemente banhado em lágrimas ou a disposição a se martirizar por qualquer
causa seja parte do atributo ‘homem de verdade’ – até porque sequer tenho
capacidade e envergadura morais de definir qualquer desses conceitos. Nem sei direito
o que é ser homem nem ninguém conseguiu até hoje me dar uma boa definição do
que é verdade.
Mas o fato é que, no meu entender,
chorar é um ato de virtude plena; ainda que dolorosamente angustiante, é
incontestemente bonito. Beleza porque nele você se expõe, nele você se
apequena, se minimiza, para então mostrar o gigantismo do seu mundo, do seu eu.
O homem de verdade não chora por coisa pouca; pelo contrário, se ele verteu
alguma lágrima é porque não aguentou mais. Não suportou mais a incoerência que
lhe aflige, a injustiça que observa, a insensibilidade que lhe afeta ou a
ingratidão e a desonestidade que lhe tiram o ânimo de crer e viver. E se
rebelar contra essas iniquidades da vida é um ato de coragem, de força, de
vontade, de acenar para um futuro desejoso de dias mais livres, mais coloridos,
menos injustos. O homem de verdade quando chora faz por onde mudar o seu
caminho e o dos que por ele trafegam, dando voz ao segredo quebrado e força ao
sonho – ainda que temporariamente – perdido. O homem de verdade no momento em
que trava a garganta não quer atenção, mas quer aliados à sua causa. Não quer
pesar, mas agir. Não quer sua pena, mas sua compaixão e força. Ele não quer se
fazer de vítima, mas quer que você entenda que todos somos reféns do acaso que
planejamos ou não. Dos acertos que cumprimos ou não, do afago e do aceno à
morte que todo dia nos tira um pouco da existência, mas também nos enche profundamente dela. E como é bom sentir o gosto de existir, mesmo que tenha um sabor salgado da nada doce vida. O choro é, eu acho, a arma contra isso: o homem de verdade combate o seu flagelo com
força e resignação ao mesmo tempo, luta contra seus desafios, sabendo reconhecer
o seu fracasso para poder sorrir até mesmo na queda. Para poder dizer: "hoje eu choro porque errei ou comigo erraram, mas amanhã eu aprendo e apesar disso terei prazer em sorrir".
O choro é, pois, sintoma de
saudade, de vontade. É alento para a tragédia e prêmio para o vitorioso, que
com amor e dor constrói o seu caminho de um homem de verdade.
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