quinta-feira, 3 de maio de 2012

Quando você mergulha, meu amigo.




Mergulhar é um programa arriscado, meu amigo, pois todo bom mergulho pressupõe uma junção de tantos fatores que o prazer de fazê-lo é semelhante à mais pura adrenalina do risco; uma antítese cruel entre o bem estar e o afogamento iminente. Frisson total, magia, meu caro.

Antes de afundar, cheque a água, sua temperatura, a profundidade, e, principalmente, o tamanho do salto. Salto alto costuma dar vertigem, tontura, loucura.

Tem mais, os mergulhadores sábios não afundam sem um guia, uma corda de salvação. Eles não se aventuram em águas desconhecidas sem a própria admoestação: voltarei seguro? Sim, voltarás, desde que aqueles fatores estejam a seu favor, a água, a fundura... a coragem de enfrentar os imprevistos, degustar o real sabor do medo; e como o medo tem gosto de remédio!

Seguidas as regras básicas, é de se curtir o abraço do frio, é se sentir na própria flutuação, se entregar ao azul, verde, translúcidos e opacos, tudo ao mesmo tempo. É de se deixar levar caso o aconchego da água esteja mais atrativo que os impropérios do ar. É se arrastar na correnteza do calor do momento, abrir os olhos e soltar todo o oxigênio, soltar-se. Largar-se.

Não sei o que você acha, meu amigo, mas afundar no mergulho tem lá sua beleza.

Um comentário:

A. Paula disse...

Tomando essa bela metáfora, preciso/prefiro buscar águas novas, porque, no fim, todo mundo precisa de um (se não vários) mergulho(s) perfeito(s).

Uma grande dose de identificação. Ótimo texto!