Mergulhar é um
programa arriscado, meu amigo, pois todo bom mergulho
pressupõe uma junção de tantos fatores que o prazer de fazê-lo é
semelhante à mais pura adrenalina do risco; uma antítese cruel
entre o bem estar e o afogamento iminente. Frisson total, magia, meu caro.
Antes de afundar,
cheque a água, sua temperatura, a profundidade, e, principalmente, o
tamanho do salto. Salto alto costuma dar vertigem, tontura, loucura.
Tem mais, os
mergulhadores sábios não afundam sem um guia, uma corda de
salvação. Eles não se aventuram em águas desconhecidas sem a
própria admoestação: voltarei seguro? Sim, voltarás, desde que
aqueles fatores estejam a seu favor, a água, a fundura... a coragem
de enfrentar os imprevistos, degustar o real sabor do medo; e como o
medo tem gosto de remédio!
Seguidas as regras
básicas, é de se curtir o abraço do frio, é se sentir na própria
flutuação, se entregar ao azul, verde, translúcidos e opacos, tudo
ao mesmo tempo. É de se deixar levar caso o aconchego da água
esteja mais atrativo que os impropérios do ar. É se arrastar na
correnteza do calor do momento, abrir os olhos e soltar todo o
oxigênio, soltar-se. Largar-se.
Não sei o que você
acha, meu amigo, mas afundar no mergulho tem lá sua beleza.
Um comentário:
Tomando essa bela metáfora, preciso/prefiro buscar águas novas, porque, no fim, todo mundo precisa de um (se não vários) mergulho(s) perfeito(s).
Uma grande dose de identificação. Ótimo texto!
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