sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Meu coração é uma ilha

Já diria Djavan, que djavaneia como ninguém, que o coração é uma ilha a centenas de milhas daqui. Escuto isso tentando devanear, tal qual o poeta inspirado, imaginando um oceano de águas bravias, repleto de criaturas do mar, implacáveis, famintas, orgulhosas. E nessa ilha lá isolada no meio do pacífico, perdida, ancorada em cadeia montanhosa profundíssima que podia muito bem se chamar peito ou edifício, está o coração roçando no imenso mapa azul, que lhe arranca pedaços, lhe faz carícias, lhe joga pedras, lhe lança anzóis, lhe perde a vista.

De tão alta dá vertigem, de tão exposta encandeia e inibe, de tão firme não vibra e de tão bela lembra o sol que nasce - ainda bem - todas as manhãs por trás das cortinas do quarto e das pálpebras dos olhos.

Mas ela está ali, e isso é bonito, ainda que distante, ainda que medida na casa de centenas de milhas, separadas pelo mar bravio e pela saudade. E por mais bonita que seja, não há foto capaz de captar fisicamente tamanha força; memória não compartilhada mas viva como uma imagem impressa que eu mostro com orgulho pra quem eu quiser.