sábado, 18 de fevereiro de 2017

Da cidade natal ao futuro

Eu nem vi se era mesmo belo aquele horizonte, mas eu senti a cidade à minha frente, o topo dos edifícios, o barulho, o calor e o sabor do vento. O fato é que ela estava lá, altiva, viva, pulsante e parada, distante e perto, enquanto eu em crise de ausência crônica, como alguém que morreu e não descobriu, uma alma penada e parada em pé sob o sol escaldante das 11 da manhã.

Engraçado começar um texto assim, falando de coisas que só têm sentido em se vivendo e terminar se comparando a estar morto. Mas se você olhar bem, a gente é mesmo essa coisa ambígua: vilão e heroi. Eu sou o meu lobo, eu me mordo e eu me mato ao passo em que apenas sou refém do que sinto. E quem consegue parar isso, não é mesmo? Quem senão eu para melhor me destruir com minhas próprias armas? Não sou apenas um lobo, mas o meu melhor lobo. 11 e meia da manhã eu era o maior dos meus infortúnios.

E foi nessa hora que me perguntei: a gente é para quê? Para ter um filho e dá-lo ao sofrimento? Para cumprir com alguma missão que vai envolver necessariamente a dor da perda? Para servir a alguém maior que eu? Ou a um ideal maior que eu? Até o meio dia, eu acho que nada mais tinha mudado exceto o sol que agora queimava mais, embora o sentisse menos. E até uma da tarde morri de saudade do que vivi, do que não vivi também. Chorei pelos amigos, pelos amores, pela família, não de arrependimento ou tardia epifania qualquer, mas por singela saudade até daquilo que era ruim e que passou.

Aí eu percebi o quão bom é refletir para irradiar, tal como um espelho limpo e lavado. Chorar, botar para fora, lembrar com carinho, pois tudo é para fortalecer. Do jeito que uma e meia da tarde eu estaria de pé, estático, impávido e colosso, engrandecido porque, se vale a pena qualquer coisa, repito, qualquer coisa, é só para se ter o que se ama.

Eu nem vi se era mesmo belo aquele horizonte, mas esse nome me pareceu um vaticínio: assim como minha cidade natal é e sempre será meu ninho, será bonito o futuro daqui para frente. E nele estarão comigo todos os que aqui quiserem estar e ainda aqueles que eu guardo de corpo e alma, porque só por eles vale qualquer esforço. Qualquer um.


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