segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A história de uma descida.

Até onde eu sei, só se vive uma vez. Tipo um menino que tem uma bicicleta e está lá, no topo da ladeira, descendo em velocidade constante sem conseguir parar, sem conseguir frear, desviando dos buracos, saltando quando dá. E quando não dá, o jeito é cair, imediatamente botar a bike de pé e continuar a descida, olhando pros lados e pra frente. É bom botar logo a bicicleta andando porque, até onde eu sei, só dá pra descer essa ladeira uma vez.

Por ser uma vez só, é bom aproveitar. Vento na cara, é disso que estou falando. Adrenalina, dopamina e serotonina, menina. Apesar de ser uma descida solitária, dá pra agarrar as mãos de alguns no caminho: das famílias que a vida nos dá, dos amores que ela nos empresta. Dá pra fazer menos grave o peso do caminho acumulado e mais leves os quilômetros que ainda faltam. Gravidade que manda a gente com uma bagagem do tamanho do mundo lá pra baixo, pro fim da ladeira e pra baixo da terra, pra depois virarmos espaço sideral tudo de novo. Poeira de estrelas. Não é à toa que a gente diz que quando alguém morre, vira um pontinho no céu. No caso, um céu super estrelado daqueles que encanta e deixa boquiaberta até mesmo a mais briguenta das meninas doces na sua bicicleta em forma de barco. E pois não é que isso é mesmo verdade?

Hoje eu estou completamente encantado pela descida. Completamente e inteiramente apaixonado pelo vento na cara dessa ladeira que infelizmente vai ter um fim. Tem uns buracos monstruosos, na verdade, e tem umas quedas feias também, daquelas que a pessoa fica literalmente no chão. Tem umas pessoas que merecem minhas desculpas também, por eu ter sido egoísta, por ter sido injusto, imbecil... Mas, no fim das contas, todo mundo, eu, você, o menino e a bicicleta, vamos subir a ladeira sendo poeira de estrelas e até lá eu espero deixar tudo resolvido. Enquanto a gente vai descendo sendo carne e osso, é bom aproveitar porque até onde eu sei, só se vive uma vez.


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