domingo, 26 de fevereiro de 2023

Estrelas e corações


Uma estrela explodiu lá longe. 

Na noite escura do céu, quando uma estrela explode é difícil não perceber o clarão lá no alto: as cores e formas se engolindo numa dança cósmica inebriante, como se fizessem rodopios ao som de caixa e tambor e ao toque de mãos divinas. Algo como uma pequena escola de samba suspensa no infinito.

O que foi primeiro um pequeno brilho no céu, bem pequeno, foi crescendo aos poucos. Alguns dias depois da explosão, era como se uma luz tomasse conta da noite e não houvesse mais outras estrelas para se enxergar naquele momento. Era tão claro, como se aquela luz deixasse enxergar até mesmo o ar. 

Eu vi essa estrela explodir. Vi seus pedacinhos chegando até mim, me atravessando, me transformando, combinando e reorganizando em uma nova composição. A princípio eu neguei que aquela luz daquela estrela lá longe pudesse me mudar. Quem é ela? Quem ela acha que é? Eu não pedi nenhuma combinação nova em mim. Mas, sob aquela luz que iluminava o céu da noite, eu dancei. Dancei ao ritmo do samba que ela me deixava ver e ouvir, rodopiando, atravessando em si mesma e em mim também, me enchendo de vida mesmo sendo ela só um feixe de luz vagando apática à minha existência.

Depois que ela entrou em mim, seu brilho já era eu.

E aí meu coração explodiu também. Nas noites que insistiam em escurecer, tudo era luz, tudo era cósmico; a existência era uma sinfonia gostosa de se ouvir. Não sei se quando meu coração explodiu ele deixou de existir, talvez por um breve momento ele seja mais que um coração e menos que uma estrela, mas eu sei que ele também existe hoje em outros corações. E depois disso, ninguém mais vagou com apatia, pois o universo estava rico em beleza, em toque, em cura.

O que explodiu lá longe agora brilha em todo lugar, inclusive aqui perto.

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