quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quase não lembro o dia em que você me parou na estação.

O chão do quarto ainda está cheio de seus passos
E eu consigo vê-los em câmera lenta.
Ainda consigo sentir os seus abraços
Os seus dedos, o seu pescoço, sua boca.

E eu que estou sempre à sua espera
Ao mesmo tempo não descanso
Pois estou à sua procura
Ao avesso, em reverso, lembrando.

Imaginando...

Como você chegou aqui assim?
O que você queria de mim?
Quase não lembro o dia em que você me parou na estação.
Estava tão claro, calmo, e de repente se fez furacão.

Um frio, um calafrio
Perdi a aposta. Dias de derrotas.
Minhas viagens e passagens e bilhetes
Não me dão entrada em nenhum lugar
Exceto a solidão.

Os seus olhos e bocas e línguas
Suas falas e beijos e gestos ordenados
Seus apegos e desejos e dedos cruzados
Seus movimentos na lua crescente
De um céu azul desbotado

Como você chegou aqui assim?
O que você queria de mim?
Quase não lembro o dia em que você me parou na estação.
Estava tão claro, calmo, e de repente se fez furacão.

E a poesia se congela no mesmo instante
Em que você me deixa sublime e me deixa.
Você que me faz presença e faz falta.
Vai buscar outro cigarro, outro otário.
Outro que lhe deixe dinheiro na mesa.

Eu não devia ter você hoje.
Você precisava não voltar
Mas eu nunca cumpri com meus deveres.
E você nunca foi de precisar.


Isaac N

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