terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Fuga.

É na fuga da rotina que me tens por inteiro. É na ignorância da rotina que eu me esquivo e, enquanto a despisto, mergulho no mar que é de corpo e de cobertor, de braço e de abraço. Corro rápido para perto dos olhos dormentes que são a beira do mar e porta do universo e lá dentro me afundo mesmo, me refestelo de liberdade; liberto do despertar, dos despertadores e de suas horas, minutos, segundos, terceiros... 

A agonia de logo mergulhar dita toda a minha pressa. Não desate os nós desses cadarços pois eles se enlaçam e desenlaçam com a rotina e rotina é norma. Ela é o calçado que impede de sentir o chão, de apertar a terra fria por entre os dedos, de ser o mar em que mergulho. Deixe que eu arranco com meus dedos do pé essa meia, não vamos perder tempo com processos infalíveis e programados. Não vamos seguir padrões, não deixe o sol se esconder, não desligue a luz, não pare de dançar. Não resolva agora todos os seus problemas, tão pouco queira saber dos meus, porque a gente está tratando aqui de sonhos e a rotina é inimiga da minha pressa.

Deixe-me contemplar o barulho do mar que vem de dentro dos olhos enquanto sonho com a próxima fuga em que me terás por inteiro. E, por fim, quando for inevitável abraçá-la, é melhor pensar que até mesmo o trem que irrompe das montanhas também abraça os seus trilhos, a sua rotina. Que até o avião, esse danado, depende do chão para poder flutuar.


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